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Notas para os.as locutores.as
A “hesitação vacinal” é definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como um estado de conflito sobre, ou oposição a, ser vacinado.
As pessoas que tomam vacinas têm diferentes graus de indecisão, dúvidas, ou preocupação com vacinas específicas ou todas as vacinas. Algumas pessoas com hesitação vacinal podem aceitar todas as vacinas, mas continuam preocupados com elas. Outros podem recusar ou atrasar para tomar certas vacinas, mas não outras.
Em África, como noutros lugares, a hesitação vacinal tem sido motivada por uma série de factores: falta de confiança, falta de segurança, e uma falta de influências sociais de apoio. Algumas preocupações sobre a segurança das vacinas resultam do seu rápido desenvolvimento, e isto é agravado pelas alegações não verificadas de mortes após a imunização na Europa. Os governos africanos têm lutado para garantir vacinas num sistema em que os países ricos tomam a porção do mais forte, dando destaque às injustiças globais. Para a maior parte da região, esse desafio continua. Mas à medida que as campanhas de vacinação começam finalmente a estender-se a todo o continente, esta desconfiança persistente está a tornar-se cada vez mais evidente.
Os peritos em saúde pública argumentam que estes receios podem ser combatidos com informação precisa, direccionada e culturalmente apropriada. Isto é enfatizado pelo Dr. Salim neste guião, onde ouvimos o que está a ser feito pelo Ministério da Saúde no Quénia para convencer as pessoas a ultrapassar a hesitação vacinal. Ouvimos do Abdi e do Allan, algumas dos motivos que as pessoas dão para não tomarem as vacinas contra a COVID-19.
Caso queira produzir um programa semelhante sobre a hesitação da vacina contra a COVID, poderá usar este documento como guião. Se decidir apresentar o guião no seu programa habitual, pode usar actores de voz ou apresentadores de rádio para representar os entrevistados. Neste caso, informe o seu público no início do programa que estas são as vozes dos actores de voz, não os verdadeiros entrevistados.
Caso deseje criar programas sobre hesitação vacinal, fale com um.a funcionário.a de saúde pública ou com um agente comunitário de saúde.
Poderia fazer-lhes as seguintes perguntas, entre outras:
- Porque é que as pessoas desta área estão hesitantes em tomar a vacina contra a COVID-19?
- O que pode acontecer se muitas pessoas não tomarem a vacina contra a COVID-19?
- Como as pessoas podem ser convencidas de que a vacina contra a COVID-19 é segura?
- Como se pode encorajar indivíduos ou grupos a convencer outras pessoas a tomarem a vacina?
A duração estimada com música, intro e extro, é de 25 minutos.
Script
LOCUTOR.A:
A doença da COVID-19 foi detectada pela primeira vez a 17 de Novembro de 2019, na cidade de Wuhan, China e espalhou-se rapidamente por todo o mundo. A 30 de Janeiro de 2020, a Organização Mundial de Saúde, também conhecida como OMS, declarou o surto da COVID-19 como uma Emergência de Saúde Pública de Preocupação Internacional.
A doença tem causado milhões de mortes em todo o mundo, e uma das estratégias para controlar a pandemia é a vacinação em massa. Mais de 11 mil milhões de doses de vacinas COVID-19 já foram administradas em todo o mundo, e as vacinas desempenharam um papel crucial na prevenção de quadros graves e morte pela COVID-19.
No programa de hoje, descobrimos porque é que algumas pessoas no Quénia hesitam em tomar as vacinas contra a COVID-19 e que medidas estão a ser tomadas pelo Ministério da Saúde do Quénia para lhes fazer mudar de ideia.
SFX:
SUBIR E BAIXAR O VOLUME DA MÚSICA
LOCUTOR.A:
Abdi é um dos muitos quenianos que tinham receio de tomar a vacina contra a COVID-19. Ele vacinou-se há pouco tempo. Falei com ele e queria saber porque é que ele não queria tomar a vacina em inicialmente e o que fez-lhe mudar de ideia.
ABDI:
Sabe que sou da comunidade Somali e que também sou muçulmano. Tinha ouvido histórias de que a vacina é feita a partir de carne de porco, e isso vai contra as minhas crenças religiosas. Também tinha ouvido dizer que a vacina contra a COVID-19 foi feita para reduzir a população de algumas comunidades.
LOCUTOR.A:
Como a comunidade Somali?
ABDI:
Sabe que temos muitos imigrantes somalis no Quénia e que a nossa população está a crescer de forma rápida. Ouvi alguns somalis a dizerem que esta poderia ser uma forma de reduzir o nosso número.
ABDI:
(A RIR) Sabe, ouvi dizer que… (A SUSURAR) diminui a força do homem.
LOCUTOR.A:
A força do homem—como assim?
ABDI:
Quero dizer sexualmente, vai afectar os homens e talvez torna-los fracos durante o sexo.
LOCUTOR.A:
Abdi, um homem de 53 anos de idade, estava hesitante por causa das suas crenças religiosas e também temia que a vacina lhe afectasse sexualmente. Por outro lado, Allan, um jovem de 20 anos, está muito entusiasmado com a vacina contra a COVID-19. Ele nem sempre esteve entusiasmado com a vacina e no início não estava nem interessado – até que ficou infectado com a COVID-19. Apanhei-lhe em Nairobi e perguntei-lhe se já tinha tomado a vacina.
ALLAN:
Oh sim! Tive a oportunidade de tomar em Maio de 2021.
LOCUTOR.A:
Parece que você ficou feliz por tomar a vacina.
ALLAN:
Sim, na verdade eu é que fui à procura da vacina. Não esperei que o Ministério da Saúde viesse à minha zona. Viajei vários quilómetros para o conseguir tomar.
ALLAN:
Cerca de um mês antes de tomar a vacina, eu tive COVID-19 e estava realmente doente. Achei que fosse morrer.
LOCUTOR.A:
Descobriu como pegou a COVID-19?
ALLAN:
Sim, fui a uma festa na casa de um amigo e, a dada altura, muito poucos de nós tinham máscaras e não estávamos a manter distância física adequada. Um dos meus amigos sentados ao meu lado tossia sem parar, mas eu não pensei muito nisso. Cerca de uma semana depois, comecei a sentir-me doente.
LOCUTOR.A:
Então você fez o teste da COVID-19?
ALLAN:
Não. Naquela altura, não pensei que tivesse COVID-19, pensei que fosse malária mesmo. Tive malária algumas vezes e os sintomas eram os mesmos. Comprei alguns medicamentos na farmácia e tomei-os, mas não houve nenhuma melhoria. Um dia depois do trabalho, passei da clínica e fizeram-me um teste de malária, que deu negativo. Fizeram um teste de febre tifóide. O resultado foi positivo. Fui então medicado para a febre tifóide. Alguns dias depois, estava a sentir-me pior. Fiquei em casa para descansar, e à noite dei uma volta pela vizinhança. Desmaiei fora da minha casa. Os meus vizinhos ajudaram-me a entrar na casa. Depois de me sentir um pouco melhor, fui à farmácia e expliquei os meus sintomas. Deram-me alguns suplementos e aconselharam-me a ir fazer o teste da COVID-19. Eu estava muito hesitante.
LOCUTOR.A:
Hesitante em fazer o teste?
ALLAN:
Sim, acho que estava em negação de poder ter COVID-19 – e nessa altura, havia muito estigma à volta das pessoas com COVID-19. Tinha medo de ser levado para os centros de quarentena na cidade onde levavam pessoas suspeitas de terem COVID-19. Por isso fui para casa, tomei os suplementos, e esperava melhorar. Não melhorei.
ALLAN:
Fiquei tão doente que decidi ligar para os números de emergência da COVID-19 que o Ministério da Saúde tinha emitido. A pessoa que atendeu a minha chamada foi muito boa comigo. Perguntou sobre os meus sintomas, que eram febre muito alta, e nessa altura eu tinha perdido o meu paladar e olfacto. Tinha dores nas articulações e cansaço.
LOCUTOR.A:
Ela convenceu-lhe a ir para o teste?
ALLAN:
Sim, ela encaminhou-me para o local mais próximo onde podia fazer o teste da COVID-19 e eu fiz o teste. Durante os primeiros dias da COVID-19 no Quénia, tínhamos que esperar de 24 a 48 horas para obter os resultados do teste. Recebi uma chamada e foi-me dito que o teste da COVID-19 tinha dado positivo. Por sorte, porque vivia sozinho, pediram que eu ficasse dentro de casa e foi-me dito que o pessoal do Ministério da Saúde faria o meu controlo. Também me aconselharam sobre qual a medicação eu deveria comprar na farmácia para os meus sintomas. Fiquei dentro de casa durante 14 dias e, após os primeiros sete dias, fiquei muito melhor. Mas demorei alguns meses até recuperar o meu paladar e o meu olfacto. Ainda tenho algum cansaço muitos meses depois, mas agora estou muito melhor.
LOCUTOR.A:
Você pensava em tomar a vacina antes de pegar a COVID-19?
ALLAN:
Não! Na verdade, nãoachava que fosse necessário.
ALLAN:
Eu sou jovem – bem com 26 anos, considero-me jovem. Não tenho nenhum problema de saúde. Pensei que cumpria sempre as medidas de higiene da COVID-19 recomendadas pelo Ministério da Saúde. Trabalhava a partir de casa e, quando saía, usava a minha máscara religiosamente e mantinha distância até àquele momento, quando estava na festa. Também tinha receios sobre a vacina.
ALLAN:
Tenho um amigo próximo que quase perdeu a perna esquerda quando tinha três anos de idade por causa da administração errada das vacinas para bebés. Passou muitos meses no hospital e faltou a muitas aulas na escola por causa disso.
LOCUTOR.A:
Abdi e Allan, duas pessoas com razões variadas para não tomarem a vacina. Salim Husein é o Chefe do Departamento de Cuidados de Saúde Primários do Ministério da Saúde no Quénia. Ele compreende muito bem a questão da hesitação da vacinação porque lida com ela todos os dias. Perguntei-lhe quantas pessoas estão vacinadas no Quénia actualmente.
DR. SALIM:
Cerca de 8,4 milhões de quenianos e quenianas estão actualmente vacinados. Isto representa cerca de 1% da população.
LOCUTOR.A:
Esta é uma pequena percentagem. Porque é que as pessoas não estão a tomar a vacina?
DR. SALIM:
Há alguma hesitação em tomar a vacina, o que se deve a muitas razões. A principal é desinformação ou falta de informação adequada e, em alguns casos, nenhuma informação sobre a doença ou a vacina.
LOCUTOR.A:
Onde é que as pessoas obtêm as informações erradas?
DR. SALIM:
A maior parte da má informação é através dos meios de comunicação social, assim como do boca-a-boca. Isto contribui para a maior percentagem de pessoas que estão hesitantes. É aqui onde estão os mitos.
LOCUTOR.A:
Quais são alguns dos mitos com os quais tem lidado?
DR. SALIM:
Há muita informação contraditória sobre a vacina contra a COVID-19 e, consequentemente, há muitos mitos e equívocos. Por exemplo, há aqueles que estão convencidos de que quando tomarem a vacina, estarão a ser injectados com a COVID-19 e vão morrer. E uma vez que a vacina é de um país estrangeiro, é uma forma de reduzir a população de pessoas no Quénia ou em África. Outros acreditam que ela pode matar bebés em gestação, ou fazer com que os homens percam a sua libido ou causar infertilidade nas mulheres.
LOCUTOR.A:
Tanto Abdi como Allam tiveram de lidar com os seus próprios receios sobre a vacina. Para Abdi, foi por razões religiosas e medo de que a vacina pudesse afectar a sua saúde sexual. Para Allan, foi pela experiência que o seu amigo teve quando tomou as vacinas dadas às crianças recém-nascidas. O Quénia tem tido um histórico de hesitação de vacinação, mesmo nas vacinas para crianças. Perguntei a Allan se tinha tomado outras vacinações.
ALLAN:
Sim, eu tomei vacinas de infância e, segundo a minha mãe, não sofri nada. Tomei até a vacina contra a febre amarela sem nenhum efeito secundário quando precisava de viajar para fora do país. Mas acho que com a COVID-19 e todos os detalhes desconhecidos sobre ela, estava hesitante e também senti que não precisava realmente de tomá-la. Após o teste da COVID-19 que deu positivo, resolvi tomá-la – ninguém me convenceu. Se pudesse, teria tomado imediatamente quando o teste da COVID-19 deu positivo.
LOCUTOR.A:
Que perguntas você tinha sobre as vacinas contra a COVID-19?
ALLAN:
Bem, em primeiro lugar, pensei que se tinham sido desenvolvidas muito rápido. E, em segundo lugar, tinha perguntas sobre alguns efeitos secundários. Por exemplo, ouvi dizer que, no início ainda na Europa, as pessoas estavam a ter coágulos de sangue causados pela vacina.
LOCUTOR.A: Obrigado, Allan. Penso que agora é uma boa altura para perguntar ao Dr. Salim sobre estas questões. Dr. Salim, o que tem a dizer sobre as perguntas do Allan?
DR. SALIM:
Muito obrigado. E obrigado por essas perguntas, Allan. Estas são preocupações muito válidas e eu quero responder a cada uma delas.
Primeiro, sobre o desenvolvimento das vacinas contra a COVID-19 … Durante a pandemia, foi disponibilizada uma quantidade incrível de dinheiro para financiar a investigação de vacinas, e cientistas de todo o mundo juntaram-se e partilharam os seus dados. Graças a isto, os cientistas conseguiram criar as vacinas muito rapidamente.
Além disso, os investigadores têm estudado os coronavírus há décadas e aprenderam muito com outros dois coronavírus que afectaram os seres humanos nos últimos 20 anos: SRA e MERS. Após a identificação do vírus que causa a COVID-19, os cientistas mapearam a sua informação genética no prazo de duas semanas. Isto ajudou-lhes a identificar exactamente que tipo de vacina iria funcionar contra a COVID-19.
Entretanto, com certeza não houve corta-matos, e foram seguidos todos os passos necessários para garantir que as vacinas sejam seguras e eficazes. As vacinas contra a COVID-19 aprovadas para utilização cumprem as normas rigorosas estabelecidas pelas agências de saúde governamentais em países de todo o mundo. E os estudos sobre as vacinas continuam até aos dias de hoje!
ALLAN:
Isso é reconfortante, doutor, obrigado.
DR. SALIM:
O prazer é meu! Também tinha uma pergunta sobre coágulos de sangue. É verdade que houve alguns relatos de coágulos de sangue entre três a 30 dias após a vacinação com a vacina AstraZeneca e Janssen, também chamada vacina Johnson e Johnson. Estes casos são graves, mas MUITO raros.
De facto, estudos mostram que é mais provável que você tenha um coágulo de sangue por estar infectado com a COVID-19 do que por qualquer vacina contra COVID-19!
LOCUTOR.A:
Uau, isso é interessante.
DR. SALIM:
Sim. Os efeitos secundários da vacina contra a COVID-19 são quase sempre ligeiros e incluem normalmente dores no braço, febre ligeira, fadiga, dores de cabeça, e dores musculares ou nas articulações.
E Allan, sobre a sua última preocupação: A COVID-19 é um risco para todos, jovens e idosos! Ficar doente com a COVID-19 pode ter sérios impactos duradouros na sua saúde e bem-estar. As vacinas são a forma mais segura e eficaz de prevenir quadros graves, hospitalização, e morte pela COVID-19.
LOCUTOR.A:
Obrigado, doutor. Estas são mensagens muito importantes para os nossos ouvintes e as nossas ouvintes. Agora Allan, de volta a si para uma pergunta final: Teve algum efeito secundário depois de tomar a vacina?
ALLAN:
Honestamente, não sei dizer porque ainda tinha alguns efeitos persistentes da COVID-19 na altura em que tomei a vacina, apesar de o teste ter dado negativo. Ainda tinha muita fadiga, e o meu paladar e olfacto não tinham voltado totalmente. Mas nessa altura já estava muito melhor e conseguia ir trabalhar e fazer tudo normalmente – por isso a minha suposição é que tive muito poucos efeitos secundários, se é que tive algum.
LOCUTOR.A:
Allan está satisfeito com a sua vacina contra COVID. Abdi, por outro lado, sente que a vacina não é necessária. Perguntei-lhe se tinha sido vacinado.
ABDI:
Sim, mas sabe que não foi por escolha. Quando a COVID-19 atingiu o Quénia, a zona de Eastleigh onde eu vivo e onde a maioria dos somalis vivem em Nairobi foi afectada. O governo fechou a área durante um mês. Sofremos muito. Eu sou o único que trabalha e não posso deixar a minha família sofrer, por isso tomei a vacina porque havia rumores de que talvez não pudéssemos ter acesso aos serviços governamentais sem um cartão de vacinação.
LOCUTOR.A:
Essa é a única razão pela qual tomou a vacina?
ABDI:
Também vi o meu imã, o meu líder na mesquita, a tomar a vacina. Por isso, pensei que se o imã está a tomar, talvez não tenha vestígios de carne de porco. Mas a principal razão era que eu precisava para poder fazer negócios sem problemas.
LOCUTOR.A:
Observou alguma alteração no seu corpo desde que tomou a vacina?
ABDI:
Antes de mais, assegurei-me de tomar a vacina de dose única. Pensei que talvez uma dose única teria menos efeitos secundários. Também ouvi dos meus amigos e familiares na América e Europa que a vacina de dose única é melhor. Bem, fiquei um pouco doente; Febre e dor de cabeça durante alguns dias e depois fiquei bem.
LOCUTOR.A:
Que tal a sua saúde sexual?
ABDI:
Oh isso! Bem, (LAUGHING) a minha mulher estaria em melhor posição para responder a isso (LAUGHING). Ainda não vi nenhuma mudança negativa. Mas sabem, agora sou um homem velho. Tenho mais de 50 anos e não sou tão activo como era, por isso não sei, talvez daqui a um ou dois anos, verei. Ainda estou a observar (LAUGHING).
LOCUTOR.A:
Há mais alguém da sua família que tomou a vacina?
ABDI:
Não! Só eu. Disse-lhes que esperassem para observar como isso me afectaria antes que alguém mais tomasse. Mas eles têm observado todas as medidas de higiene necessárias—lavar as mãos, usar uma máscara, e manter a distância—e nenhum de nós foi infectado pela COVID-19 até agora.
ABDI:
Passa menos de um ano. Vou esperar mais seis meses ou um ano e quem sabe a COVID-19 não existirá mais.
LOCUTOR.A:
É com indivíduos como Abdi que o Dr. Salim está a trabalhar arduamente para convencer que existe informação falsa sobre a vacina. Perguntei ao Dr. Salim se estes mitos eram verdadeiros. Olá mais uma vez, Dr. Salim.
DR. SALIM:
Olá. Não, estes rumores não são verdadeiros. Inicialmente, havia informação inconsistente e descoordenada proveniente de várias fontes. Isto facilitou às pessoas a criação de falsas alegações sobre a vacina contra a COVID-19. Há também informações verdadeiras que assustam as pessoas. Por exemplo, falámos anteriormente com Allan sobre os efeitos secundários normais e suaves das vacinas contra a COVID-19. A ideia de efeitos secundários assusta muitas pessoas, mas quero tranquilizar novamente a todos e todas ouvintes que os efeitos secundários das vacinas contra a COVID-19 são normais e tipicamente muito ligeiros, incluindo aspectos como dores no braço, febre ligeira, fadiga, dores de cabeça, e dores musculares ou nas articulações. Outras pessoas têm medo de coágulos de sangue, mas mais uma vez, estes são EXTREMEMENTE raros e, na verdade, corre-se mais risco de obter coágulos de sangue por ter a COVID-19 do que por tomar a vacina.
Houve também preocupações de que as vacinas que estavam a ser distribuídas em África fossem inferiores ou falsas. Isto também não é verdade. As vacinas contra a COVID-19 aprovadas para utilização cumprem normas rigorosas estabelecidas pelas agências de saúde governamentais em países de todo o mundo.
Infelizmente, embora estes rumores não sejam verdadeiros, podem afugentar as pessoas de tomar a vacina. Por isso, exorto aos nossos ouvintes a ouvirem os médicos e profissionais de saúde, e a terem muito cuidado com notícias falsas, desinformação, e rumores. As vacinas contra a COVID-19 são seguras e eficazes.
LOCUTOR.A:
Para além da desinformação, há outro motivo de hesitação?
DR. SALIM:
Sim. A falta de acesso à vacina também contribui para um menor número de pessoas a serem vacinadas. Isto foi sobretudo visível nas primeiras semanas, quando as vacinas estavam em oferta limitada. Isto resultou em longas filas de espera que desencorajavam as pessoas a tomar a vacina, pois temiam expor-se à COVID-19 no processo. Outras pessoas não conseguiram aceder à vacina porque o registo era virtual e há uma população de quenianos que não conseguem aceder à Internet.
Neste momento, temos milhões de vacinas, mas temos poucas pessoas a vir tomá-las devido à hesitação que estamos a tentar ultrapassar.
LOCUTOR.A:
Então, como são abordados todos estes motivos de hesitação?
DR. SALIM:
Dando factos sobre a doença, assim como sobre a vacina. Além disso, sendo simplesmente transparente em termos de quais vacinas estão disponíveis, quantas pessoas foram vacinadas, os possíveis efeitos secundários da vacina, o número de infecções, e as mortes como resultado da COVID-19.
Também abordamos mitos e equívocos nos meios virtuais de comunicação utilizando o portal e website do Ministério da Saúde. O Presidente e o Ministro da Saúde também comunicam a situação real relativa à COVID e à vacina. Dentro do ministério, temos também o sistema de rastreio de rumores que procura informações falsas online e as contrariá-las fornecendo informações factuais. As perguntas mais frequentes sobre o portal do Ministério da Saúde estão sempre a ser revistas para captar quaisquer preocupações do público e dar as informações certas. Todas as semanas, podemos determinar qual é o principal mito ou rumor que circula e abordá-lo com factos.
LOCUTOR.A:
Isto é para a população urbana que pode aceder à informação online. E quanto à abordagem da informação falsa boca-a-boca que se encontra na maior parte da aldeia. Como é que está a ser feita?
DR. SALIM:
Através do trabalho com os governos distritais das zonas rurais, assim como com os funcionários comunitários da saúde. Primeiro treinamos-lhes para que conheçam os factos sobre a doença e a vacina e depois passa-la às pessoas. Estamos também a trabalhar com diferentes grupos de pessoas como líderes religiosos, professores, guardas prisionais, pessoas com deficiência, motociclistas, e jovens. Após a sua formação, tornam-se defensores e defensoras que ajudam a sensibilizar diferentes grupos dentro da população.
LOCUTOR.A:
E quanto às mulheres? Elas também são afectadas pelos rumores e estão também envolvidas como defensoras para encorajar mais mulheres a tomar a vacina?
DR. SALIM:
No início, havia muitas mulheres preocupadas com a vacina. As mulheres gestanmtes receavam que os seus bebés em gestação fossem negativamente afectados pela vacina. Mas de facto, as vacinas COVID-19 são seguras e eficazes para mulheres grávidas, mulheres lactantes, e mulheres que planeiam a sua gestação. A COVID-19 é mais perigosa para as mulheres gestantes do que para outras, por isso é muito importante que as mulheres grávidas sejam vacinadas.
Para as mulheres lactantes, vimos que é possível que a vacina contra a COVID-19 passe através do leite materno para os recém-nascidos que amamentam. Isto significa que as mulheres lactantes que são vacinadas podem também estar a transmitir protecção contra a COVID-19 aos seus bebés, o que é maravilhoso.
Muitas mulheres também se preocupam temendo que a vacina possa interferir no seu sistema reprodutivo, causar uma mudança no seu ciclo menstrual, e eventualmente causar infertilidade. Mas isto não é verdade. As vacinas NÃO causam infertilidade. De facto, elas nem afectam o sistema reprodutivo.
Todas estas questões tiveram de ser abordadas para que as mulheres entendessem sobre as vacinas e confiassem nelas. Devo dizer que há actualmente mais mulheres a tomar a vacina e conseguimos fazer muitos progressos nos últimos seis meses. Portanto, sim, para responder à sua pergunta, as mulheres são excelentes defensoras das vacinas contra a COVID-19.
SFX:
SUBIR E BAIXAR O VOLUME DA MÚSICA
LOCUTOR.A:
O Dr. Salim acaba de nos explicar como o Ministério da Saúde tem trabalhado para convencer o povo queniano da importância de se tomar a vacina contra a COVID-19. Segundo o Dr. Salim, nos últimos seis meses, houve um enorme aumento de pessoas que tomaram a vacina depois de o ministério ter decidido utilizar todos os meios para transmitir a informação certa para as pessoas.
DR. SALIM:
O envolvimento significativo é importante para aqueles que estão hesitantes. Descobrir porque não querem tomar a vacina e abordar a questão com factos. Quando começámos a fazer isso no Quénia, vimos o número de pessoas que tomam a vacina aumentar de cinco milhões para 18 milhões em menos de seis meses. Se hesitam porque estão a amamentar e grávidas, dêem factos sobre como a vacina não afectará o seu bebé ou feto. Se é um homem que teme pela sua saúde sexual, damos factos que mostram que a vacina não afecta a libido ou não causa infertilidade nos homens ou mulheres.
LOCUTOR.A:
E aqueles que estão hesitantes porque por ter doenças crónicas?
DR. SALIM:
Não há provas de que a vacina piore as suas condições. O que temos observado é as pessoas que contraem a doença da COVID-19 depois de terem tomado a vacina não ficam gravemente doentes. De facto, a maioria consegue continuar com a sua vida num curto espaço de tempo. Vale também notar que muitas das pessoas que estão actualmente hospitalizadas na Unidade de Terapia Intensiva no Quénia não foram vacinadas. É possível que as pessoas vacinadas, especialmente aquelas com condições de saúde pré-existentes, desenvolvam quadros graves da COVID-19 e necessitem de hospitalização. Mas estes casos são muito raros.
LOCUTOR.A:
Acha que as pessoas temem que a situação com a COVID-19 possa ser uma vida só de vacinas e vacinas de reforço?
DR. SALIM:
É preciso lembrar que a vacina contra a febre amarela que é necessária em muitos países também exigiu que as pessoas tomassem vacinas de reforço durante vários anos. Levou muito tempo até chegarmos finalmente ao ponto em que uma vacina poderia durar 10 anos. Assim, a vacina contra a COVID como a vacina contra a febre amarela pode ter de passar por vários testes ao longo dos anos até chegarmos a um ponto em que uma vacina seja tomada uma para muitos anos. Por enquanto, as vacinas contra a COVID-19 que temos são seguras. Podem ter efeitos secundários leves a moderados, mas todas elas são seguras e eficazes e irão salvar-nos não só da infecção, mas também de quadros graves e da morte.
LOCUTOR.A:
O Allan também tem conselhos para quem está hesitante em tomar a vacina.
ALLAN
: Só posso falar por experiência própria. A COVID-19 não é brincadeira! Escolheria tomar a vacina a qualquer momento do que sofrer a dor de ter a COVID-19. Na verdade, neste momento, quero ir tomar as vacinas de reforço. Só posso dizer “tome para a sua própria protecção e pelos entes queridos com quem você vive”.
Acknowledgements
Agradecimentos
Contribuição de: Winnie Onyimbo, Trans World Radio, Nairobi, Quénia
Revisão: A Organização Mundial de Saúde
Este recurso é financiado pelo Governo do Canadá através da Global Affairs Canada como parte do projecto Life -saving Public Health and Vaccine Communication at Scale in Sub-Saharan Africa (Saúde Pública Salva-vidas e Comunicação em Escala sobre Vacinas na África Subsaariana ou VACS).
Information sources
Fontes de informação
Amref health Africa, 2001.Hesitação na vacinação contra a COVID-19: intenções de vacinação e atitudes dos voluntários comunitários da saúde em África (COVID-19 vaccine hesitancy: vaccination intentions and attitudes of community health volunteers in Africa.) https://amref.org/download/vaccination-intentions-and-attitudes-of-community-health-volunteers-in-kenya/?wpdmdl=10938&refresh=62a24963dc6f31654802787
McDonald, M. E., 2015. Hesitação da vacinação: Definição, alcance e determinantes. (Vaccine hesitancy: Definition, scope and determinants). Vaccine, Volume 33, Issue 34, Páginas’ 4161-4164. https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0264410X15005009?via%3Dihub
Mutombo, P. N., et al, 2022.Hesitação da vacinação contra aCOVID-19 em África: um apelo à acção. (COVID-19 vaccine hesitancy in Africa: a call to action. The Lancet Global Health, Volume 10, issue 3, e320-e321. https://www.thelancet.com/journals/langlo/article/PIIS2214-109X(21)00563-5/fulltext#back-bib3
Wiysonge, C. S., 2019. Hesitação da vacinação, um Perigo Crescente em África (Vaccine Hesitancy, an Escalating Danger in Africa) https://www.thinkglobalhealth.org/article/vaccine-hesitancy-escalating-danger-africa
Entrevistas:
Sr. Allan Mwangi, entrevista realizada a 26 de Maio de 2022
Sr. Abdi Ahmed, entrevista realizadaa a 23 de Maio de 2022
Dr. Salim Hussen, Chefe do Departamento de Cuidados de Saúde Primários do Ministério da Saúde do Quénia. Entrevista realizada a 3 de Junho de 2022