Malambe cria empregos e reduz pobreza em Moçambique

Agricultura

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Notas para as emissoras

A agricultura é o maior contribuinte para a economia de Moçambique com uma média de 4% de acordo com o Instituto Nacional de Estatística do país.

O fruto do embondeiro, localmente conhecido como malambe, é nativo de África, e constitui a savana seca africana em muitos países da África subsaariana. Um embondeiro pode viver mais de mil anos, mas leva aproximadamente 16 a 23 anos para amadurecer e produzir flores e subsequentemente frutos.

Ao contrário de outras culturas de rendimento como o café ou o cacau, o malambe não é uma cultura de plantação. As árvores levam tanto tempo a amadurecer que os agricultores dependem largamente da colheita de frutos das árvores já existentes. Em vez disso, o malambe é apanhado e colectado à mão pelos aldeões locais, com um embondeiro a produzir cerca de 1.500 frutos por ano.

O embondeiro é uma árvore polivalente, e a polpa do seu fruto, as sementes, as folhas, as flores, as raízes e a casca são todas comestíveis. Ele é rico em vitamina C, fósforo, cálcio, fibras, hidratos de carbono, proteínas, potássio, e gorduras.

O fruto é processado para fazer pó, que é o principal ingrediente procurado nos mercados europeu e americano. A população local tem pouco conhecimento do valor do malambe no mercado internacional, uma vez que existe uma falta de orientação comercial e de sensibilização sobre potenciais compradores.

Entretanto, agora mulheres de comunidades pobres nos distritos moçambicanos de Guro e Tambara na província central de Manica e Changara na província ocidental de Tete estão a recolher malambe e a vendê-lo a uma empresa de processamento próxima chamada Baobab Products Mozambique ou BPM que exporta a polpa para a Europa e EUA.

Se quiser produzir um programa sobre o malambe ou outros produtos silvestres, pode inspirar-se neste texto. Se optar por apresentar este guião de rádio como parte do seu programa agrícola, poderá usar vozes para representar as pessoas entrevistadas neste caso. Se for o caso, queira por favor dizer ao seu público logo no início do programa que as vozes são de actores e não dos participantes reais.

Se quiser transmitir programas sobre um tema semelhante, fale com pessoas que colhem produtos selvagens, processadores, comerciantes, exportadores, e outros na cadeia de valor.

Dentre outras, pode fazer-lhes as seguintes perguntas:

  • Quem recolhe, transporta, processa e comercializa o produto? Qual destes grupos recebe bons lucros pelo seu trabalho? Porquê ou porque não?
  • Quais são os desafios associados a cada interveniente da cadeia de valor e como podem ser ultrapassados?
  • Que papéis as mulheres desempenham na cadeia de valor, e esses papéis são remunerados de forma justa? Se não, o que pode ser feito para melhorar a situação das mulheres?

A duração estimada com música, intro e extro, é de 25 minutos.

Script

LOCUTOR:
Até recentemente, o malambe só era utilizado localmente em Moçambique, mas uma pequena rede de colectores, processadores, e fornecedores elevou o perfil da fruta no estrangeiro.

O director da Baobab Products Mozambique, Andrew Kingman, diz que o estabelecimento da sua empresa nos distritos de Tambara e Guro começou a trazer receitas muito necessárias para as comunidades, na sua maioria pobres, dessa área.

Sr. Kingman, gostaria de começar por lhe dar as boas-vindas e agradecer-lhe por falar connosco hoje. Hoje, o nosso foco estará na cadeia de valor do malambe e no que a sua empresa tem feito nos distritos de Tambara e Guro.

ANDREW KINGMAN:
Estamos sediados principalmente em Chimoio, na província de Manica. Como sabem, o malambe é um recurso que se encontra no centro e em muitas partes do norte e tem sido utilizado pela população local durante milénios. O fruto em si é incrivelmente saudável. A polpa dentro da fruta é rica em vitamina C e cálcio. Por isso, muitas vezes é dada a crianças ou idosos porque é fácil de digerir e extremamente saudável.

Por volta do ano 2000, várias empresas na Europa começaram a considerar a sua comercialização.

Havia uma cadeia de valor informal em Moçambique. Durante décadas, comerciantes do Malawi, Zimbabwe, e até certo ponto, Maputo, Beira, e Tete, viajaram para as comunidades e compraram a polpa de mulheres colectoras.

Normalmente, essas mulheres encontram os frutos no chão ou usam paus longos para os retirar das árvores, depois racham os frutos, abrem, retiram a polpa, e colocam-na num saco.

Elas levavam de volta para a aldeia e colocavam os sacos nos camiões dos comerciantes visitantes, que lhes pagavam uma ninharia; apenas algumas moedas por uma grande quantidade de polpa. As mulheres nada sabiam sobre a cadeia de valor, nada sabiam sobre para onde ia a polpa, para que servia o produto, ou qual era o preço final. E estes comerciantes beneficiaram-se dessa ignorância durante décadas.

A nossa empresa, Baobab Products Mozambique, foi criada para encontrar oportunidades de mudar a forma como os fornecedores locais de malambe são tratados, e para garantir que possam obter um melhor negócio na cadeia de valor. Começámos a trabalhar no norte da província de Manica em 2012.

Fizemos alguma investigação a nível internacional e rapidamente identificámos que havia um mercado internacional em crescimento. Assim, criámos a nossa própria empresa em 2015 para comercializar o produto e promover a cadeia de valor.

Quando começámos, a primeira coisa que fizemos foi multiplicar por quatro o preço pago aos colectores. E mantivemos esse compromisso.

LOCUTOR:
Que mudanças económicas as vossas operações em Manica trouxeram?

ANDREW KINGMAN:
Quando começámos, não tínhamos um mercado. Sabíamos que o malambe seria principalmente um produto de exportação, mas queríamos vendê-lo também a nível nacional. Assim, a partir de 2017, temos vendido o malambe em pó no mercado nacional.

Nos primeiros anos, tínhamos talvez 500 mulheres a fornecer-nos, e comprámos talvez 100 ou 150 toneladas da fruta. No ano passado, 1.390 mulheres venderam fruta à empresa. Quando a colheita do malambe é boa perto de algumas comunidades num ano, as mulheres dessa zona conseguem muita fruta, enquanto outras não conseguem tanta. Mas a média é de mais de $50 por mulher. E isso é transformador para essa comunidade: as pessoas compram chapas para cobertura, motocicletas, gado. Temos centenas de histórias de como as mulheres estão a ganhar recursos financeiros, que contribuem para a família.

LOCUTOR:
Trabalham apenas com mulheres? E tem fornecedores permanentes ou qualquer pessoa pode vender a vocês?

ANDREW KINGMAN:
Contratamos as mulheres porque somos certificados pela EcoCert, uma certificadora orgânica da Europa, que tem normas muito rigorosas em quanto à formação. Todas as mulheres fornecedoras têm de passar por um processo anual de formação e registo. Muitas delas já estão connosco há anos. É uma fonte de rendimento muito importante para elas, por isso retornam.

LOCUTOR:
Porquê só mulheres?

ANDREW KINGMAN:
Em primeiro lugar, são as mulheres que tradicionalmente recolhem produtos colhidos selvagens, sejam plantas medicinais, folhas, frutas silvestres, espécies nativas de frutas, ou malambe. Elas fazem o processamento e a cozedura, também.

Estávamos determinados para que o comércio não fosse dominado pelos homens, porque é o que normalmente acontece assim que se dá algum valor a uma actividade. Mas nós não excluímos os homens. Em muitos casos, trata-se de uma ocupação familiar.

Mas o empoderamento das mulheres não é apenas uma questão de dinheiro. O que é crítico é que são as mulheres que têm o contrato, não os homens. Isso altera o equilíbrio do poder.

LOCUTOR:
Quais são as vantagens de trabalhar apenas com mulheres?

ANDREW KINIGMAN:
São sérias, não tendem a beber na mesma quantidade, ou da mesma maneira que os homens.

Conhecem a floresta, conhecem o processo, são confiáveis.

Além disso, a nossa fundação está a trabalhar nestas comunidades no trabalho de alfabetização e numeracia, agricultura sustentável, gestão de recursos naturais e organização comunitária. Assim, o comércio do malambe dá-nos uma plataforma para trabalhar com a comunidade em geral.

O que descobrimos é que, nos últimos anos, tem havido uma mudança na dinâmica do género no agregado familiar. As mulheres relatam que são tratadas com mais respeito na comunidade. E no agregado familiar, assistimos a muitas mudanças na forma como a tomada de decisões acontece. Normalmente, os homens pegavam no dinheiro e decidiam o que era feito com ele. Agora, há muito mais exemplos em que há uma conversa na família sobre a priorização do uso do dinheiro, porque ele é mais substancial. E as mulheres estão a usar o seu poder relativo para negociar espaço.

LOCUTOR:
Qual é o passo que segue após a recolha dos frutos?

ANDREW KINGMAN:
Temos muitos pontos de recolha. Quando a fruta entra, é pesada, as mulheres recebem imediatamente o dinheiro se for no dia de pagamento, ou recebem um recibo do seu colector principal.

Como sabem que vão ser pagas, voltam no dia da compra, e transportamos as frutas para um dos quatro ou cinco centros de pré-processamento onde rachamos a fruta e extraímos a polpa.

LOCUTOR: Onde conseguem a maioria dos vossos clientes?

ANDREW KINGMAN:
São na sua maioria internacionais. Estamos a ver grandes empresas a envolverem-se, e vendemos principalmente para os mercados europeus.

Somos uma empresa comercial, estamos a tentar ter lucro, e queremos partilhar esse lucro com os nossos fornecedores.

Entretanto, estamos também muito preocupados com a observação dos princípios de práticas comerciais justas na comunidade e com o tratamento justo dos nossos fornecedores. Assim, também tentamos encontrar compradores que partilhem esses valores.

LOCUTOR:
O que torna o malambe diferente de outros produtos agrícolas?

ANDREW KINGMAN:
O que o faz sobressair como produto são as suas qualidades naturais. A polpa da fruta é extremamente nutritiva. Estamos a falar de níveis de vitamina C que são quatro a cinco vezes o equivalente a uma laranja. Tem mais cálcio por 100 gramas do que praticamente tudo em termos de fontes naturais; É rico em potássio, magnésio e fibra dietética; E também sabe bem.

LOCUTOR:
Estão a operar em Manica. Será isto algo que pode dar alguma riqueza aos habitantes locais num futuro próximo?

ANDREW KINGMAN:
Definitivamente. Para muitas comunidades nas zonas mais pobres, as zonas mais secas onde a agricultura não é realmente muito gratificante, é provavelmente a sua principal fonte de rendimento. O malambe deixou de ser algo que fornece algumas moedas extra para ser a mais importante fonte de rendimento em um ano para algumas famílias.

LOCUTOR:
Onde vê a sua empresa nos próximos cinco anos?

ANDREW KINGMAN:
Espero ver mais fornecedores a ganhar mais dinheiro e mais envolvidos na nossa empresa. Ajudámos as mulheres a criar uma associação de colectoras, que representa os interesses dos colectores na nossa empresa.

Até ao final deste ano, queremos transferir acções para essa associação. Queremos continuar a ajudá-las a desenvolver a sua capacidade de desempenhar realmente um papel na empresa e na cadeia de valor.

LOCUTOR:
Quais são os maiores desafios para toda a cadeia de valor?

ANDREW KINGMAN:
As mudanças climáticas são um grande desafio. A previsão a curto e médio prazo mostra que o centro de Moçambique vai ficar mais húmido. O fornecimento de fruta foi afectado por grandes tempestades no final do ano passado, que retiraram todas as flores. Elas removeram também uma grande proporção das moscas que polinizam as flores e impediram o desenvolvimento da fruta. Portanto, as mudanças climáticas são definitivamente uma ameaça.

A outra coisa é que os mercados mundiais podem ser inconstantes e voláteis. É muito difícil que pequenas empresas sobrevivam num mercado internacional desafiante. Não temos muitas estruturas de apoio, é difícil conseguir empréstimos bancários acessíveis, gerir o fluxo de caixa, escassez, etc. Então, a sustentabilidade é um desafio.

LOCUTOR:
No emergente sector do malambe em Moçambique, as associações estão a proliferar nos distritos de Guro e Tambara e é exactamente lá onde a Baobab Products Mozambique está a formar potenciais fornecedores. Ana Mlambo é a coordenadora de formação da BPM e explica sobre o envolvimento da associação.

Qual é o tamanho da associação?

ANA MLAMBO:
A associação é constituída por 25 aldeias, das quais oito se encontram no Distrito de Tambara e as restantes são do Distrito de Guro.

No ano passado, tínhamos cerca de 1.800 membros registados nestas 25 associações de aldeias.

LOCUTOR:
Como é que funciona? Paga-se para aderir?

ANA MLAMBO:
Para se tornar membro, você tem de estar registado e ter um contrato como fornecedor para a Baobab Products Mozambique, ou BPM.

Quando faz a formação, a BPM dá contratos para a recolha de malambe. A associação ainda é jovem e por vezes a BPM ajuda-a a olhar em frente para o que vai acontecer no próximo ano e onde vai ser feita a abertura da fruta. E discutem preços futuros e onde irão fazer a recolha.

Eles falam também do que os clientes externos querem e esperam em termos da qualidade dos alimentos produzidos e da qualidade e quantidade do produto.

LOCUTOR:
Como é que a recolha de malambe está a mudar a vida das pessoas comuns onde vocês operaram?

ANA MLAMBO:
Mudou muito desde a época em que esta era considerada uma actividade apenas para mulheres. Quando a empresa começou a falar sobre comprar malambe, todos os aldeões, especialmente homens e líderes de aldeia, tiveram dificuldades em aderir.

Mas agora, as senhoras viúvas, as divorciadas, as que têm maridos – ganham um certo respeito na aldeia porque estão a contribuir para o desenvolvimento da aldeia, e estão a construir novas casas.

Os maridos estão agora a regressar para algumas comunidades, e na realidade começam a recolher o malambe e a dá-lo às suas esposas, que depois o vendem.

Isto está a transformar-se num projecto familiar em que todos os membros da família participam.

Começámos com cerca de 500, mas agora temos 1.800 colectores. Entre estes, 25 são grandes colectores que compram dos seus colectores. E agora os líderes encontram realmente os agentes e falam com eles. Os agentes são compradores que podem vir a qualquer momento e comprar pequenas quantidades. Os líderes estão também a pensar em outras vias para ganhar dinheiro. Portanto, há muitas coisas a acontecer aqui.

No passado, via muitas mulheres sem nenhuma confiança. Nem sequer tinham respeito próprio. Mas vejo mulheres com esta força, com a coragem de falar e defender este projecto, para defender o que estão a fazer.

Vejo também crianças com grandes sorrisos a ir para a escola secundária, o que nunca tinha acontecido antes.

Portanto, muita coisa mudou. As mulheres estão a defender os seus direitos e a proteger as suas famílias. Isto é realmente algo de que eu falo com muita emoção. E estou orgulhosa de trabalhar com estas mulheres.

LOCUTOR:
Sra. Ana, qual é o seu papel na organização?

ANA MLAMBO:
O meu papel principal é formar estas mulheres e eu trabalho com elas para criar a associação. A formação inclui falar sobre a vida das mulheres, os problemas que enfrentam e como podem encontrar soluções sem sair das suas aldeias, e também dar-lhes as competências para implementar o sistema orgânico e para negociar com a empresa e como devem cuidar do ambiente. Elas precisam de cuidar das florestas e compreender o que acontece se houver muita exploração florestal com muitos focos de incêndio. Portanto, basicamente, esta é a minha luta ao lado das mulheres.

LOCUTOR:
Disse que a maioria destas mulheres não são letradas, e que as está a treinar. Qual é o seu maior desafio nisso?

ANA MLAMBO:
Começámos a trabalhar com as mulheres na educação. Queremos ensinar as adolescentes a ler e escrever, queremos que elas compreendam, especialmente quando vêm e vêem o malambe recolhido. O que devem esperar e o que devem olhar quando estão a pesar os seus frutos? O que devem verificar quando estão a registar a quantidade do malambe e como devem compará-lo com a quantidade de dinheiro a que estão a chegar?

LOCUTOR:
Senhora Ana Mlambo, agradeço muito pela sua contribuição e pelo seu tempo

Cacilda Mandinhosa Trabuco é uma viúva de 31 anos com quatro filhos e quatro anos de experiência na recolha de malambe.

Cacilda Mandinhosa Trabuco:

A melhor maneira de ganhar a vida agora é colher o malambe, embora seja sazonal. Durante a época baixa, vou a machamba para cultivar. Com o dinheiro que recebo da venda do malambe, compro roupa e comida e faço outros pequenos negócios como comprar e vender sal e açúcar na aldeia onde vivo.

LOCUTOR:
Febi Antonio Mainato é uma mãe casada de 33 anos de idade, com quatro filhos, que cresceu em extrema pobreza. Ela vê uma oportunidade de ganhar a vida com a grande porção de terra que contém embondeiros perto dela.

Febi Antonio Mainato: Não sabíamos que o malmbe tinha valor e sobrevivemos só na base de agricultura de subsistência e da horticultura, apesar da temperatura seca aqui. Mas quando comecei a recolher o malambe em 2012, a minha vida deu uma volta. Hoje, posso mandar os meus filhos à escola e a família construiu uma casa adequada a partir do que ganho neste trabalho. Também ajudo o meu marido nas despesas domésticas e agora comemos comida melhor.

LOCUTOR:
A oportunidade de colectar malambe parece estar a unificar as famílias; todos membros da família estão envolvidos.

FEBI ANTONIO MAINATO:
A família está mais unida agora. O meu marido ajuda-me a construir cabanas onde guardo o malambe após a recolha, e ele ajuda-me quando o estou a secar.

LOCUTOR:
Então, Mainato olha para o futuro com esperança.

Maria William é mãe de três filhos e divorciada com de 32 anos. Ela fez ecoar os mesmos sentimentos.

MARIA WILLIAM:
Como divorciada, a pobreza e o sofrimento diário levaram-me a encontrar soluções para sobreviver, e recolher o malambe foi a única resposta. Em 2018, não podia nem sequer mandar os meus filhos para a escola. Agora isto mudou e posso pagar as minhas próprias contas e mandar os meus filhos à escola, e vivemos numa casa decente.

LOCUTOR:
Mulheres como a Maria William são apaixonadas pelas actividades com o malambe, e querem mais formação para ter mais oportunidades na área.

MARIA WILLIAM:
É necessária mais formação porque queremos saber o que podemos fazer com o malambe de baixa qualidade, frutos que são mais pequenos ou partidos e que não são aceites pela empresa. Vejo muitas oportunidades no sector do malambe e é isso que quero passar toda a minha vida a fazer, uma vez que não existem outras opções de sobrevivência. Quero melhorar a qualidade da minha vida e um dia gostaria de comprar uma motocicleta e oferecê-la ao meu filho.

LOCUTOR:
Depois de ser treinada pela BPM, Suzete Zita, uma mãe de quatro filhos com 37 anos de idade, produz iogurte a partir de frutos subutilizados como o malambe. Ela passa a maior parte do seu tempo a examinar cuidadosamente os frutos do embondeiro e outras plantas selvagens na sua casa rural no distrito de Manhiça, 75 quilómetros a norte da capital, Maputo, para determinar se podem ser utilizados para aromatizar iogurte.

SUZETE ZITA:
Tive a ideia de produzir iogurte com sabor a malambe, depois de alguns fazendeiros locais se queixarem de não terem onde vender o seu leite, e que por isso estavam a perdê-lo.

Costumava trabalhar numa estação de petróleo e falei com o meu antigo gerente sobre a minha ideia. Ele deu-me algumas dicas sobre como trabalhar com frutos silvestres e leite. Depois, há dois anos, comprei um fogão e algumas panelas grandes para fazer o iogurte.

Agora consigo ganhar cerca de $128 numa boa semana de trabalho de apenas cinco dias.

Eu tinha um pouco de capital para outras ideias de negócios, mas pensava que os produtos de malambe eram uma ideia acessível. Por isso, deixei todas as outras ideias e concentrei-me em fazer iogurte. Utilizei menos de $175 para iniciar o negócio, e recuperei esse dinheiro em menos de dois meses.

Compro leite dos fazendeiros da minha aldeia para produzir o iogurte, que depois misturo com malambe em pó ou fruta Vanguera infausto antes de o mandar pela auto-estrada perto da capital, Maputo, para venda. (Nota do editor: Vanguera infausto tem diferentes nomes comuns, incluindo mapfilua na língua Shangana, falada pela maioria das pessoas no sul de Moçambique).

Planejo construir a minha própria fábrica de iogurtes, e estou agora em condições de exportar iogurte fresco, com sabor a malambe para países vizinhos como Eswatini, África do Sul, e Zimbabué.

Sabe-se que a agricultura está principalmente associada ao sofrimento, e nenhum jovem quer sofrer. Assim, com a minha fábrica de iogurte, oferecerei aos jovens empregos no laboratório e trabalho administrativo no escritório.

LOCUTOR:
Suzete Zita faz parte de um grupo crescente de agricultores de sucesso que trabalham para elevar à imagem da agricultura em Moçambique.

Agradeço pela vossa simpática atenção. Hoje, ouvimos Andrew Kingman, o director da Baobab Products Mozambique, Ana Mlambo, coordenadora de formação da BPM, três mulheres que colectam o malambe, e uma mulher que processa o malambe em iogurte.

Ficamos a saber que o malambe, que até recentemente era um fruto não popular em Moçambique, é cada vez mais exportado para a Europa e EUA como um alimento saudável e popular, e que uma empresa chamada BPM está a ajudar a beneficiar alguns milhares de mulheres que recolhem a fruta silvestre, aumentando os pagamentos pelo seu malambe, tratando-as de forma justa, e permitindo-lhes ganhar a vida para as suas famílias e comunidades.

Acknowledgements

Agradecimentos

Contribuição de: Charles Mangwiro, jornalista, Maputo, Moçambique.

Revisto por: Paulo do Rosário, Consultor Especialista em Cadeia de Valor do Malambe, Centro de Inovação Verde para o Sector Agrícola e Alimentar, GIAE Moçambique

Entrevistas

Andrew Kingman, 28 de Abril de 2021

Ana Mlambo, 5 de Maio de 2021

Cacilda Mandinhosa Trabuco, 5 de Maio de 2021

Febi Antónia, 5 de Maio de 2021

Maria William, 5 de Maio de 2021

Este recurso teve apoio da ajuda de uma subvenção da Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit GmbH (GIZ) que implementa o projecto do Centro de Inovação Verde.