Agricultura de conservação: Rendimentos elevados, custos de produção baixos e solos mais férteis

Produção agrícolaSaúde do solo

Notes to broadcasters

Notas ao emissor:

A agricultura de conservação, ou AC, tem o objectivo de aumentar os rendimentos e reduzir os custos de produção, mantendo e melhorando a fertilidade dos solos e economizando água.

A agricultura de conservação assenta em três princípios ou práticas:

1. Trabalho pouco ou nenhum do solo, para evitar perturbá-lo. Os únicos trabalhos que os agricultores efetuam no solo é a escarificação ou a subsolagem, o traçamento de linhas plantação, plantação através da manta ou buracos de semeamento com uma enxada.

2. Manter o solo cobertor sempre que possível com resíduos de culturas anteriores e materiais de forragem, árvores ou gramíneas como a manta ou culturas-abrigo para proteger o solo da erosão fluvial e eólica, melhorar a fertilidade do solo e limitar o crescimento de ervas daninhas ao longo do ano.

3. Rotação das culturas, cultura intercalada ou associação de culturas. A rotação das culturas consiste no cultivo de vários tipos de mercadorias no mesmo campo, uma seguida da outra. A rotação das cultur- as interrompe o ciclo de pragas, doenças e daninhas, permitindo assim rendimentos mais elevados, para além de preservar e melhorar a fertilidade do solo. A cultura intercalada permite também aumentar a biodiversidade nos campos, e assim lutar contra pragas, doenças e daninhas.

Este texto radiofónico demonstra como os agricultores e agricultoras de explorações familiares podem obter rendimentos mais elevados graças à agricultura de conservação. Grave Kariuki, uma agricultora originária do centro do Quénia pratica a agricultura de conservação e a sua colheita aumentou. Aqui explica-nos como melhorou os seus rendimentos com a AC.

Stephan Lutz é consultor em programas do World Renew Kenya. Trabalha com agricultores e agriculto- ras de exploração familiar no Quénia há mais de 15 anos. Neste texto, explica-nos o que é a agricultura de conservação e como os agricultores de exploração familiar nas regiões semiáridas podem aproveitá-la.

O texto radiofónico presente é baseado em entrevistas reais. Pode inspirar-se nele para as suas pesquisas e escrever um texto semelhante. Senão, pode reutilizá-lo para a sua emissão, interpretado por atores e atrizes de voz em vez dos entrevistados originais. Se for o caso, assegure-se de que informa o seu público no início da emissão que as vozes são de atores, e não das pessoas entrevistadas originalmente.

Pode também utilizar este texto radiofónico como documento de pesquisa ou inspirar-se nele para realizar as suas próprias emissões sobre as vantagens da agricultura de conser- vação. Entreviste agricultores e agricultoras, agentes de divulgação e outros especialistas. Pode lhes fazer as perguntas seguintes:
• Qual é a história da agricultura de conservação nesta região?
• Como é que os locais têm reagido à agricultura de conservação nos últimos anos?
• Quais são as vantagens da agricultura de conservação para os agricultores praticantes?
• Que problemas podem encontrar os agricultores praticantes?

Para além de entrevistar diretamente agricultores e outros especialistas, podem utilizar estas perguntas para um fórum telefónico ou uma emissão com envio de SMSs.

Duração estimada do elemento presente, com introdução e despedida: 15 minutes.

Script

ANIMADOR :
Bom-dia e bem-vindos à emissão “De agricultor para agricultor”. Hoje vamos ao Quénia falar de agricultura de conservação.

Sabiam que a agricultura de conservação permite aumentar os rendimentos das suas culturas e reduzir os custos agrícolas, preservar a fertilidade do solo e economizar água? Assenta em três princípios. Fique atento e explicar-lhe-emos exatamente quais.

Vamos falar com Stephan Lutz, consultor de programa que trabalha com o World Renew Kenya. Mais tarde, teremos o testemunho de uma agricultora originária do Quénia que também pratica a agricultura de conservação com sucesso.

JINGLE AUMENTA E DEPOIS DESCE PARA MAIS BAIXA QUE A VOZ DO ANIMADOR

ANIMADOR :
A agricultura de conservação, também chamada AC não é uma prática nova. Na verdade já é praticada há bastantes anos em África. Stephan Lutz é consultor de programas no World Renew Kenya e é um verdadeiro apaixonado da agricultura de conservação. Trabalha com agricultores e agricultoras de exploração familiar há mais de 15 anos. Quando lhe falei da AC, fez questão de me informar que a agricultura de conservação não é um conceito novo.

STEPHAN LUTZ :
A agricultura de conservação não é novidade. É praticada na região desde os anos 70 e tem vários nomes. Por exemplo, num contexto religioso, dizem-na ‘cultivar segundo as vias de Deus’, nas Nações Unidos, chamam-lhe ‘cultura inteligente’, e há mais nomes ainda. Em termos simples, a agricultura de conservação é um método de preservação do solo e da sua água, para que com o tempo se melhore a fertilidade e estrutura do solo.

ANIMADOR :
O que é que distingue a AC dos métodos agrícolas convencionais?

STEPHAN LUTZ :
A AC assenta em três princípios de base: 1) trabalho reduzido do solo, e perturbá-lo o menos possível. Quando possível o agricultor deve plantar diretamente no solo sem sequer o lavrar. O segundo princípio consistem em manter o solo coberto sempre que possível de matéria orgânica. A manta, as culturas-abrigo ou os resíduos de colheitas anteriores devem ser abandonados na superfície do solo para o proteger da erosão e ervas daninhas. Na agricultura tradicional, os restos das colheitas são arrancados ou queimados e depois misturados na terra com uma enxada, despindo o solo. A terra fica então muito vulnerável às chuvas e aos ventos. O terceiro princípio é traduzido pela rotação e associação de culturas. A associação de culturas engloba a cultura intercalada, a cultura com relé e cultura em banda. Isto permite reduzir a presença de pragas, lutar contra os vermes nematódeos que causam muitos danos nas culturas e aumentar a biodiversidade. Vamos também falar de um quarta princípio que não é restrito à AC, mas que é muito importante, que é a plantação de árvores. As árvores produzem manta, fixam o azoto no solo e são uma fonte de medicamentos, de fruta e outros alimentos nutritivos, madeira para aquecimento e trazer uma receita ao agricultores.

ANIMADOR:
Quais as maiores dificuldades que encontra quando tenta introduzir agricultores tradicionais à agricultura de conservação?

STEPHAN LUTZ :
As maiores barreiras são culturais. Os agricultores africanos sempre trabalharam s suas terras, portanto dizer-lhes que não a trabalhem, ou trabalhem de maneira reduzida pode ser uma grande mudança, e muitos ficam sépticos. Outra dificuldade é convencê-los a não fazer queimas. Por norma, queima os resíduos em vez de os reutilizar. São coisas que aprenderam com os seus antepassados. Portanto pedir-lhes mudança pode ser difícil.

ANIMADOR :
Então como é que ultrapassa esses obstáculos culturais?

STEPHAN LUTZ :
Pedimos-lhes que comecem devagar. Podem começar por testar a AC numa superfície pequena de 20 por 20 metros. Há já dois ou três anos que as chuvas no Quénia são muito caprichosas. No entanto, os agricultores que testam a AC conseguem colher algo desse pedaço de terra tão pequeno, ainda não valha o que costumavam colher nas superfícies maiores com agricultura convencional. Mas vendo os resultados, muitos se lançam as pés juntos, e isto incentiva os agricultores vizinhos a fazer igual.

ANIMADOR :
Quais são as outras dificuldades que encontra, fora esses obstáculos culturais?

STEPHAN LUTZ :
As pragas dificultam muito a adopção da AC. Por exemplo: o feijão preto, chamado de njahi, é uma cultura muito popular no centro do Quénia mas atrai muitas pragas, e por isso os agricultores têm muita tendência a usar muito pesticida. Em contrapartida, poupam em fertilizantes, pois recuperam a manta decomposta em nutrientes para o solo. Portanto não precisam de tantos químicos que se tornaram muito caros no Quénia, sobretudo para os agricultores e agricultoras de exploração familiar.

Outro grande problema está na falta de manta. Como as chuvas são caprichosas, os agricultores podem não conseguir criar matéria orgânica suficiente para fazer uma manta, sendo que ainda por cima têm de a partilhar com o gado. É muito difícil para um agricultor com meio hectare ou um hectare ter sempre manta, sobretudo nas regiões semiáridas. Por isso mesmo é importante plantar sempre árvores.

ANIMADOR :
Como é que os agricultores ultrapassam as dificuldades de não ter manta?

STEPHAN LUTZ :
Incentivamos os agricultores a plantar árvores, particularmente árvores cujos frutos se decomponham lentamente, como a mangueira, da qual até podem consumir ou vender o fruto. Outra boa árvore é a Grevílea-robusta. As suas raízes são muito profundas, e não precisa de competir com o resto das culturas para beber, ao contrário do eucalipto que absorve toda a água no solo, além do mais, crescer muito rápido, e a sua madeira pode ser utilizada para fogueira.

ANIMADOR:
Então, a agricultura de conservação é a solução para rendimentos maiores para agricultores de exploração familiar?

STEPHAN LUTZ :
A AC não é a solução para todos os problemas. É uma solução para atenuar os efeitos das alterações climáticas, mas não é um remédio milagre. Na verdade, é mais adaptada às regiões semiáridas, onde chove entre 500 e 800 milímetros de chuvas, mas também às regiões de chuvas irregulares e onde os criadores abandonam a criação de gado para se tornar agricultores sedentarizados, mas que não conseguem pagar irrigação ou fertilizantes químicos.

JINGLE AUMENTA E DEPOIS DESCE PARA MAIS BAIXA QUE A VOZ DO ANIMADOR

ANIMADOR :
Estão a ouvir a emissão “De agricultor para agricultor”, e estamos a aprender o que é a agricultura de conservação, ou AC, no Quénia. Acabámos de falar com o Sr Stephan Lutz, consultor de programas no World Renew Kenya. Depois da próxima curta pausa, vamos ouvir de uma agricultora que pratica a agricultura de conservação na sua exploração agrícola.

A MUSICA AUMENTA, TOCA POR UM MINUTO E DESVANECE DEBAIXO DA VOZ DO ANIMADOR

ANIMADOR :
Grace Kariuki é uma agricultora do Mwireri, uma aldeia no município de Laikipia, no centro do Quénia. Começou a praticar a agricultura de conservação em 2014 no seu terreno de dois acres, e reparou numa mudança enorme nos seus rendimentos. Fui visitá-la a Mwireri, onde a encontrei a secar a sua colheita de milho.

ANIMADOR :
Bom-dia, Grace, como está?

GRACE KARIUKI :
Bem, e bem-vindo! Peço desculpa, estou um pouco ocupada a secar milho.

ANIMADOR :
Não há problema, Grace, se não se importar, falaremos enquanto trabalha. Este milho vem da sua exploração?

GRACE KARIUKI :
Sim, é o milho que cultivei numa porção do meu terreno. Tenho dois acres nos quais planto milho, feijão e abacate.

ANIMADOR :
Parece-me que conseguiu uma colheita bastante generosa!

GRACE KARIUKI :
Com efeito, desde que me lancei na agricultura de conservação, notei muitas diferenças. Há três anos, só conseguia colher um saco de 90 kilos no meu terreno, Mal dava para sobreviver. O meu marido e eu estávamos prontos para desistir quando até ter ouvido falar da AC por uma ONG.

ANIMADOR :
Quantos sacos de milho colhia antigamente, e quantos consegue colher hoje?

GRACE KARIUKI :
Antes um acre só me trazia um saco. Quando comecei a AC, consegui quase dois sacos, e hoje em dia consigo quase oito quando chove muito. Ainda para mais, sái-me muito mais barato.

ANIMADOR :
Em que é que consegue poupar?

GRACE KARIUKI:
Para começar, já não preciso de contratar ajuda para lavrar o meu terreno, Preparo-o com um utensílio de escarificação a diesel que consigo segurar à mão e arrastar para cavar rapidamente sulcos. Também não gasto tanto quanto costumava gastar quando regava as minhas plantas. Antigamente costumava contratar mulheres para me trazerem água todos os dias. Mas agora que o meu solo está coberto com os resíduo das colheitas anteriores, e que o feijão me faz uma manta constante, não preciso de regar tanto as minhas culturas. Assim posso dedicar-me a outras atividades.

ANIMADOR :
E as pragas? Não são problema?

GRACE KARIUKI:
São um dos meus maiores problemas atualmente, isso e a falta de chuva.

ANIMADOR :
Como consegue gerir esses problemas?

GRACE KARIUKI :
Usamos pesticidas quando há demasiadas pestes. Mas, no que toca a chuva, aprendemos a recolher a água das chuvas, e usamo-la para regar as culturas quando não chove.

ANIMADOR :
Tem algum vizinho ou amigo que também esteja interessado na cultura de conservação?

GRACE KARIUKI:
Sim, muitos. Quando fomos para a formação, era eu a única mulher a participar e a mudar a minha maneira de cultivar. Estava muito céptica, mas com o tempo, realizei que era a melhor maneira de cultivar. Os meus vizinhos acabaram por reparar que não só as minhas colheitas tinham aumentado, como as espigas do meu milho estavam maiores. Quando me perguntaram como é que eu tinha feito, expliquei-lhes a AC. As mulheres estão muito contentes porque agora podem usar o tempo que perdiam com isto para outras coisas.

ANIMADOR:
Como é que a transição para a agricultura de conservação mudou a sua vida?

GRACE KARIUKI:
Posso falar por mim e pelas outras mulheres da minha aldeia que praticam a agricultura de conservação. Antigamente, eu e o meu marido estávamos muito dependentes dos nossos filhos para satisfazer necessidades diariamente, mas hoje em dia conseguimos ser mais autónomos. Compramos a comida, adubo, medicamentos para o meu marido diabético, pagamos as contas, e ainda conseguimos poupar. Outras mulheres também já me disseram que conseguem paga a escolaridade dos seus filhos, as contar, e ainda lhes sobrava um pouco para a estação seguinte. É um bom método agrícola para os que vivem em regiões áridas, e sobretudo para mulheres.

ANIMADOR:
Ouvimos Grace Kariuki, agricultora da aldeia de Mwireri, no município de Laikipia, no centro do Quénia.

Na nossa emissão “De agricultor a agricultor” hoje, falámos com Stephan Lutz, consultor de programas para o World Renew Kenya. Aprendemos que a agricultura de conservação é um método agrícola capaz de gerar rendimentos elevados e reduzir os custos de produção, isto preservando e melhorando a fertilidade do solo, e ainda permitindo poupar água. Este método assenta em três princípios: trabalhar pouco ou nada o solo, para não perturbar o solo; manter o solo coberto com manta ou culturas-abrigo para o proteger da erosão das chuvas ventos, e praticar uma rotação nas culturas, plantando as umas depois das outras para reduzir a erosão e aumentar a fertilidade do solo.

A agricultora Grace Kariuki também nos explicou com obtém melhores resultados desde que se converteu a este novo método.

Voltem sempre para o próximo número da emissão “De agricultor a agricultor”.

Acknowledgements

Agradecimentos:

Redação: Winnie Onyimbo, Trans World Radio Kenya

Revisão: John Kimathi Kirima, especialista técnico em agricultura de conservação, Scaling up Conser- vation Agriculture (Conversão da agricultura de conservação) no programa da África Este, Banco de cereais de subsistência do Canada.

Este produto foi produzido com o apoio do Banco canadiano de grãos no contexto do projeto « Conservation Agriculture for building resilience, a climate smart agriculture approach. » (A agricultura de conservação para o reforço da resiliência: um método agrícola inteligente face ao clima) Projeto realizado graças ao apoio financeiro do governo do Canada por via do ministério dos Negócios Mundias Canada. www.international.gc.ca.

Translated with funding from USAID.
USAID Washington Development objective: to support the New Alliance ICT Extension Challenge Fund through the implementation of affordable, scalable, and diverse ICT extension services.
AID-OAA-A-16-00003

Information sources

Fontes:
Entrevistas realizadas a
Grace Kariuki, agricultora praticante da agricultura de conservação no município do Laikipia, Quénia Stephan Lutz, consultor de programas para o World Renew Kenya
Interviews realizadas dia 29 Novembro e dia 8 Dezembro 2017

Definições :
Escarificação: utilização de um pequeno utensílio de trabalho para cavar sulcos estreitos sem revirar o solo.
Subsolagem: um arado de subsolagem é um utensílio de trabalho que serve para despedaçar o solo compactado. Penetra geralmente a uma profundidade de 60cm no solo e consegue portanto desfazer as zonas mais sólidas.