Comercialização do feijão bóer em Moçambique: Desafios e Soluções

Comercialização e Informações sobre o mercado

Notes to broadcasters

Notas para o locutor

Na última década, a produção do feijão bóer cresceu notavelmente em Moçambique, tendo tornando-se uma das principais culturas comercializadas e exportadas. O feijão bóer é cultivado principalmente na província da Zambézia, onde a produção se multiplicou sete vezes entre 2002 e 2012. Os distritos de Milange, Mocuba, e Morrumbala cultivam a maior parte do feijão bóer. A cultura é também produzida noutras províncias do norte e centro de Moçambique.

Em 2016, a Índia concordou em importar 125.000 toneladas de feijão bóer, em 2017-18 aumentou gradualmente e chegou a 200.000 toneladas até 2020-21. Em resposta, o governo nacional intensificou a promoção da produção de feijão bóer.

O feijão bóer é rico em proteínas e minerais tais como cálcio, fosfato, magnésio, e enxofre.

Neste guião, entrevistamos o Sr. Rufino Bila do Instituto de Cereais de Moçambique (ICM), e falamos também com dois agricultores. Ficamos a saber que a produção e comercialização do feijão bóer em Moçambique tem tido vários sucessos, assim como muitos desafios.

Se quiser produzir um programa sobre feijão bóer, pode inspirar-se neste texto. Se optar por apresentar este guião de rádio como parte do seu programa agrícola, poderá utilizar actores de voz para representar as pessoas entrevistadas neste guião. Neste caso, por favor diga ao seu público, logo no início do programa, que as vozes são de actores e não dos próprios participantes.

Caso pretendam transmitir programas sobre um tema semelhante, falem com agricultores que cultivam o feijão bóer, assim como com comerciantes, processadores, exportadores, especialistas de feijão bóer e outros da sua cadeia de valor.

Dentre outras, poderá fazer-lhes as seguintes perguntas:

  • O feijão bóer é uma cultura adequada para esta área?
  • Quais são os principais desafios para o cultivo e comercialização do feijão bóer? Que soluções têm sido propostas para estes desafios?
  • Recomenda que os agricultores, comerciantes e processadores invistam na produção, comercialização e processamento de feijão bóer, respectivamente?
  • Quais são as oportunidades para o envolvimento das mulheres na cadeia de valor do feijão bóer?

A duração estimada com música, intro e extro, é de 15-20 minutos.

Script

LOCUTOR:
Bom dia (tarde, noite) ouvintes. Hoje, o nosso programa centra-se no feijão bóer, especialmente na comercialização desta cultura. Para explorar este tema, apresentamos várias entrevistas. Primeiro, falamos com o Sr. Rufino Bila, do Instituto de Cereais de Moçambique, ou ICM. Falamos também com o Sr. Nelito Viriato, um cultivador de feijão bóer da província de Manica, no centro de Moçambique. Por fim, falamos com a Sra. Laura Simbi, uma agricultora da província de Sofala que também cultiva o feijão bóer. Ambos os agricultores partilharam a sua experiência na produção e comercialização de feijão bóer.

Sr. Rufino Bila, em 2015, Moçambique ocupava a quinta posição mundial em termos de produção, e o terceiro lugar na exportação global de feijão bóer. Actualmente, como é a produção e onde é que ela está a ser desenvolvida?

RUFINO BILA:
O feijão bóer é uma cultura comercial em Moçambique e é cultivada nas zonas centro e norte. É fácil de cultivar. Ele é plantado uma vez e produz-se durante duas a três épocas. Ele cria boa fertilidade do solo para culturas subsequentes, como o milho. É também muito nutritivo. O feijão bóer é rico em proteínas e minerais tais como ferro, cálcio, magnésio e fósforo. Para uma melhor nutrição, deve ser consumido com cereais como arroz, milho, ou trigo.

LOCUTOR:
Quando diz que o feijão bóer é uma cultura comercial, quer dizer que é produzido, vendido e exportado?

RUFINO BILA:
Exactamente. Não é como o milho e outras culturas que são principalmente para a subsistência. É uma cultura comercial porque coloca dinheiro directamente no bolso do agricultor.

LOCUTOR:
Os agricultores estão conscientes do seu valor nutritivo?

RUFINO BILA:
Sim. Os agricultores sabem que podem ganhar dinheiro rápido para as suas famílias, e por isso vendem. Entretanto, também o consomem, embora seja costume consumi-lo fresco, antes de secar.

LOCUTOR:
Conhecendo o valor nutritivo do feijão bóer, porque é que a sua produção e o consumo em massa não são promovidos a nível nacional?

RUFINO BILA:
É um desafio. O nosso secretariado técnico trabalha com agricultores e tem como objectivo fazer isso. Por exemplo, na Índia, muitas pessoas consomem este feijão regularmente. Faz parte da sua cultura. O Ministério da Agricultura em Moçambique, através do seu secretariado técnico, está empenhado em aumentar o consumo nacional do feijão bóer. Entretanto, não deve ser apenas esta instituição a tomar medidas sobre esta questão. Deve também incluir o governo e outros actores, incluindo a sociedade civil, parceiros governamentais, académicos, e outros.

LOCUTOR:
Quem deve ser responsável por mudar a percepção sobre o feijão bóer como cultura de exportação para uma cultura de consumo doméstico?

RUFINO BILA:
Todos: o governo, a sociedade, o sector da saúde na perspectiva de promover o consumo deste legume nutritivo, e o sector privado.

LOCUTOR:
E como pode ser feito?

RUFINO BILA:
Através da formação de produtores, e envolvendo outros intervenientes na secagem, moagem e enlatamento deste feijão; Cozinhando e misturando o feijão bóer com tempero e carne; Desenvolvendo a capacidade de processar o feijão bóer nas fábricas locais, aumentando o acesso ao produto, e promovendo-o como parte regular da dieta.

LOCUTOR:
Qual é o papel do governo nisto?

RUFINO BILA:
Nós somos facilitadores. Estudamos o mercado e preenchemos a lacuna entre os produtores e o mercado. Certificamos a origem do feijão em Moçambique, e actualizamos o preço de venda nacional em resposta à taxa do mercado internacional, e partilhamos isso com os agricultores.

LOCUTOR:
Sr. Rufino, há quanto tempo é que o país exporta o bóer?

RUFINO BILA:
Temos um memorando de entendimento com a Índia para exportar o feijão bóer. A Índia é um excelente mercado, e há muitos anos que exportamos este feijão para a Índia. Tivemos um primeiro memorando de entendimento com a Índia entre 2016 e 2021, em que Moçambique exportou cerca de 200.000 toneladas por ano. Depois assinámos um segundo contrato que decorre entre 2021 e 2026. O preço de comercialização do feijão bóer varia de acordo com o preço de mercado. O ICM simplesmente actualiza o preço de mercado e procura parcerias. O sector privado faz o seu investimento contactando directamente os produtores. Depois faz o processamento e a venda.

LOCUTOR:
Sabemos que o seu papel é facilitar a comercialização do feijão bóer, e que as rádios podem contribuir para maximizar o mercado. Existe uma estratégia para o sucesso disso?

RUFINO BILA:
Sim, existe uma estratégia sobre como as estações de rádio podem transmitir informação à população rural, e que tipos de mensagens devem transmitir.

LOCUTOR:
Pode dizer-nos algumas mensagens específicas?

RUFINO BILA:
Avisamos aos agricultores sobre os riscos de produzir demasiado caso aproxime-se uma má época de mercado. E encorajamo-los a produzir muito quando se prevê que o mercado seja favorável. Agindo com base neste tipo de conselhos, os agricultores podem ser mais bem sucedidos.

A ideia principal é transmitir informação aos pequenos produtores sobre a situação actual do feijão antes e no momento da comercialização. Fazemos também sensibilização para as boas práticas agrícolas e divulgamos mercados competitivos, para que os pequenos agricultores obtenham uma recompensa pelo seu trabalho agrícola. Ajudamos os pequenos produtores a tomar decisões de comercialização.

LOCUTOR:
Que outras mensagens podem ser transmitidas na rádio?

RUFINO BILA:
Mensagens sobre a utilidade do feijão bóer e a importância do seu consumo em todo o país: Ao falar da sua importância e da sua comercialização, as estações de rádio podem ajudar a transmitir a todos a mensagem sobre o valor nutritivo do feijão bóer.

LOCUTOR:
Obrigado, Sr. Rufino. Há mais alguma coisa que gostaria de partilhar com os nossos ouvintes?

RUFINO BILA:
Há um outro ponto muito importante. A rádio deve deixar claro aos agricultores que o governo não tem nada a ver com o preço do feijão bóer. O preço varia de época para época, de acordo com o mercado internacional. O papel do governo é apenas transmitir as últimas informações e actualizar os agricultores e toda a comunidade.

LOCUTOR:
Obrigado.

(PAUSA) Vamos agora falar com o Sr. Nelito Viriato, um cultivador de feijão bóer na província de Manica, no centro de Moçambique. Falaremos com ele sobre o tipo de problemas que enfrenta quando tenta comercializar o feijão.

LOCUTOR:
Como vai a sua produção de feijão bóer e onde faz o seu cultivo?

NELITO VIRIATO:
A produção está a correr bem. Estou baseado na Província de Manica, no Distrito de Gondola, Cidade de Chimoio.

LOCUTOR:
Pode dar-nos alguns detalhes sobre como as coisas estão a correr bem?

NELITO VIRIATO:
Bem, do que produzo numa época, consigo vender tudo e garantir que haja comida em casa e consigo comprar todos os insumos agrícolas de que preciso para me organizar para a época seguinte, como fertilizante, sementes, e outras coisas.

LOCUTOR:
Está a trabalhar numa cooperativa agrícola ou sozinho?

NELITO VIRIATO:
Trabalho na minha prórpia machamba. Contrato ajudantes apenas na altura do plantio e da colheita.

LOCUTOR:
Quanto produz por época?

NELITO VIRIATO:
A minha colheita actual varia de 18 a 25 sacos de 100 kg por época.

LOCUTOR:
Onde vende a sua colheita?

NELITO VIRIATO:
Após a colheita, o feijão é levado para a Companhia Vanduzi no Distrito de Vanduzi, Manica, é processado e finalmente exportado.

LOCUTOR:
Quem transporta o produto?

NELITO VIRIATO:
Os compradores vêm para as machambas e utilizam o seu próprio transporte. Isto ajuda muito porque costumávamos ter sérios problemas de transporte. Actualmente, a procura de feijão bóer é muito grande por parte dos compradores estrangeiros. Depois das colheitas, vendemos a Vanduzi, PHONix sementes limitada, CD Co, LUtiari, Moz Grain, Mercado de Exportação no Distrito de Manica. Estas empresas estão todas sediadas no Distrito de Manica e negoceiam directamente com a Índia. Compram directamente dos agricultores locais e exportam o feijão.

LOCUTOR:
Qual é o preço de venda?

NELITO VIRIATO:
O preço mais recente foi de 50 meticais moçambicanos por quilograma. Mas é importante notar que os preços variam de época para época no mercado internacional.

LOCUTOR:
O senhor consome o feijão bóer?

NELITO VIRIATO:
O feijão bóer quando prematuro é consumido cru, e quando estiver mais maduro como feijão seco. Quando prematuro e fresco, não precisa de ser cozinhado e o feijão pode ser descascado e adicionado às saladas ou comidas como aperitivos. O feijão cozido pode ser adicionado a sopas, guisados, caril, molhos, saladas, e pratos de arroz.

LOCUTOR:
Os comerciantes nas lojas compram de si e de outros produtores de feijão bóer?

NELITO VIRIATO:
Há produtores muito pequenos com muito pouca produção que vendem localmente. Outros vendem pessoalmente nos mercados e lojas sem vender a um comerciante que esteja à procura do produto.

LOCUTOR:
E você, Sr. Nelito, o que pensa sobre a situação da comercialização de feijão bóer?

NELITO VIRIATO:
Gostaria que o ICM nos ajudasse com as fábricas de processamento porque os compradores estrangeiros não nos pagam bem pelos produtos que vendemos. Outra coisa é que não sabemos se os preços que recebemos são justos ou não.

LOCUTOR:
Têm estações de rádio comunitárias?

NELITO VIRIATO:
Sim, e através delas ouvimos falar do volume de produção de culturas como arroz, milho e outras na região, e também sobre o clima, inundações, secas e outras coisas gerais.

LOCUTOR:
As estações de rádio falam sobre os preços do feijão bóer?

NELITO VIRIATO:
Não, elas não falam sobre isso por nós. Não conhecemos os preços do mercado internacional. As estações de rádio falam de preços de loja quando falam de preços de produtos em geral.

LOCUTOR:
Obrigado, Sr. Nelito.

Finalmente, falámos com a Sra. Laura Simbi, uma agricultora da província de Sofala que também cultiva o feijão bóer. Ela partilhou as suas experiências na produção e comercialização deste feijão.

LOCUTOR:
Sra. Laura, como a rádio comunitária pode ajudar os agricultores a produzir e comercializar o feijão bóer?

LAURA SIMBI:
As estações de rádio podem falar sobre o valor nutritivo do feijão bóer e certificar-se de que seja comprado amplamente em todo o país. Podem ajudar-nos a obter fertilizantes e sementes em parceria com fornecedores de fertilizantes e sementes; podem ajudar-nos a encontrar melhores clientes, e pode ajudar-nos a ter armazéns e cooperativas. As estações de rádio podem transmitir muita publicidade sobre o nosso feijão bóer, explicando sobre diferentes técnicas de produção, e diferentes mercados onde os produtores do feijão bóer podem vender as suas colheitas, para que possamos vender o máximo possível.

LOCUTOR:
Pedimos ao Sr. Bila que respondesse aos comentários do Sr. Nelilto e da Sra. Simbi e aqui está o que ele disse.

RUFINO BILA:
A visão do ICM é coordenar a comercialização agrícola a nível nacional e estabelecer a cadeia de valor entre a procura e a oferta. Como instituição governamental, temos vários objectivos no desenvolvimento da cadeia de valor do feijão bóer. Um deles é encorajar a transformação do feijão bóer em dhal para agregar valor. A transformação pode encorajar o consumo interno. O feijão bóer é rico em minerais como cálcio, fosfato, magnésio e enxofre, assim como vitaminas. Quanto aos preços, se os produtores moçambicanos não consumirem o feijão bóer, então os preços dependerão sempre do mercado internacional, do mercado de exportação. Primeiro, temos de criar mecanismos para encorajar o consumo doméstico do feijão bóer.

Concordo com os comentários do Sr. Nelito e da Sra. Laura. É necessário partilhar mais sobre os benefícios do feijão bóer e do consumo doméstico para melhorar a situação nutritiva.

LOCUTOR:
Aprendemos com este programa que os agricultores estão a produzir e comercializar feijão bóer por conta própria e não trabalham muito com cooperativas. Por razões económicas, eles cultivam a cultura principalmente para exportação e não para consumo doméstico próprio.

O ICM é responsável pela criação de um sistema que ajuda os agricultores a encontrar mercados, e ainda não teve uma intervenção directa junto aos agricultores para os ajudar a melhor comercializar os seus produtos.

Caros ouvintes, obrigado pela vossa atenção, até à próxima edição.

Acknowledgements

Agradecimentos

Com a contribuição de: Felix Mambucho, roteirista, Cidade de Maputo

Revisto por:

Entrevistas:

Rufino Bila, Abril e Maio de 2021

Nelito Viariato, Abril de 2021

Laura Simbi, Abril de 2021

Este recurso teve apoio através da ajuda de uma subvenção da Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit GmbH (GIZ) que implementa o projecto do Centro de Inovação Verde