Notes to broadcasters
Notas ao emissor
Atualmente, muitos agricultores e agricultoras de explorações familiares estão a passar por dificuldades ligadas às alterações climáticas. No entanto, as práticas de agricultura de conservação demostram que é possível sobreviver face a esta situação difícil.
A agricultura de conservação, ou AC, é um conjunto de práticas simples que os agricultores podem adoptar para contrapor as consequências negativas das alterações climáticas e aprender a “cultivar com a natureza”. Isto requer por vezes um ajuste ou mudança de métodos de trabalho tradicionais para poder tirar máximo proveito das chuvas fracas ou irregulares, bem como outras fontes de água pra as culturas.
Vários agricultores e agricultoras de explorações familiares pensam que apenas as pessoas instruídas compreendem e praticam a AC. Mas esta convém a todos os agricultores e agricultoras, qualquer que seja o seu nível de instrução.
A AC assenta na prática de perturbação mínima do solo, rotação de culturas ou associações de culturas (ou seja uma cultura intercalar eficaz), e a manutenção de uma cobertura do solo com manta e plantas vivas ao longo do ano. Para os agricultores com poucos rendimentos, o AC implica um investimento financeiro mínimo, e uma dependência menor de fertilizantes químicos.
Quando os agricultores mudam de práticas agrícolas, eles testam muitas vezes a nova prática em superfícies mais pequenas. Isto também se aplica à agricultura de conservação. O presente texto radiofónico representa uma entrevista realizada com um agricultor e um agente de divulgação, ambos trabalhando com a AC. O agente de divulgação recomenda aos agricultores que aumentem a superfície em que usam a AC. Os dois homens falam de tipos de matérias práticas para a AC, e as maneiras que podem ser associadas pelos agricultores para que todos consigam ter acesso a esse material.
Pode também apresentar este texto radiofónico no contexto da sua emissão agrícola regular, utilizando atores para as vozes das várias personagens em vez dos entrevistados originalmente. Se esse for o caso, assegure-se que informa o seu público no início da emissão que são atores que estão a falar, e não os entrevistados originalmente.
Pode usar este texto como documento de pesquisa ou inspirar-se nele para realizar as suas próprias emissões sobre a agricultura de conservação ou assuntos similares no seu país.
Entreviste agricultores e especialistas que pratiquem a AC ou que tenham conhecimentos sólidos sobre este tipo de agricultura. Pode lhes colocar as perguntas seguintes:
• Quais são os problemas agrícolas que a agricultura de conservação pode contribuir a resolver localmente?
• Os agricultores da sua região têm sucesso na aplicação da agricultura de conservação, assim como na cultura sem lavoura ou trabalho reduzido do solo?
• Quais são os obstáculos à adopção das práticas agrícolas da agricultura de conservação na sua região, e como é que podem ser ultrapassados?
Duração estimada do texto radiofónico : 15 minutos com a música de início e fim
Script
MUSICA AUMENTA, DEPOIS ENFRAQUECE SOB A VOZ DO ANIMADOR
ANIMADOR :
Bom-dia e bem-vindos à nossa emissão agrícola na rádio. Hoje serei o vosso animador enquanto nos dirigimos à aldeia de Chihanga, no centro de Dodoma, capital tanzaniana. Chihanga é uma das cinco aldeias da capital onde os agricultores praticam a agricultura de conservação.
É uma região semiárida e as alterações climáticas atuais levam cada vez mais agricultores a adoptar a agricultura de conservação. No entanto, estes vivem algumas dificuldades ao praticar este novo modelo, que também chamamos AC, nas superfícies maiores. Hoje vamos ver como podem aplicá-lo com melhor acesso à mecanização.
Nesta aldeia, encontramos Isaya Joseph que vive numa quinta de dois acres com a sua família. O Sr. Samwel Elinuru também se irá juntar a nós. O Sr. Elinuru trabalha como agente agrícola especializado em agricultura de conservação e tecnologias de divulgação junto dos agricultores. Fique à escuta.
MUSIQUE:
SUBIDA DA MUSICA QUE ENFRAQUECE LOGO DE SEGUIDA.
ANIMADOR :
São sete da manhã e estamos na quinta do Sr. Joseph.
Sr. Joseph, desde quando cultiva?
Sr. JOSEPH:
(RISOS) Já faz vários anos. Comecei muito novo, e agora tenho uma família e três filhos. A agricultura tornou-se a minha profissão. É disto que eu e a minha família vivemos.
Sr. JOSEPH:
Pratico uma agricultura mista. Cultivo milho, milet,sorgo e legumes. Tenho também cabras e galinhas.
SFX:
BARULHO DE GALINHAS ASSUSTADAS, QUE ENFRAQUECE LENTAMENTE.
ANIMADOR:
(AO PÚBLICO) O Sr. Joseph adoptou a agricultura de conservação de forma progressiva. Começou com um quarto de acre da sua terra em 2015, e agora pratica a AC na totalidade dos seus dois acres. A maioria dos agricultores utilizam as práticas de AC em superfícies relativamente pequenas. Mas a seca prolongada leva os a escolher praticar uma agricultura mais inteligente face ao clima para conseguir uma maior segurança alimentar. Temos também a sorte de ter o Sr. Elinuru connosco hoje.
ANIMADOR:
Sr. Elinuru, como é que os agricultores podem se prote- ger face às novas condições climáticas e manter os seus meios de subsistência?
SAMWEL ELINURU:
Incentivamos os agricultores a utilizar várias práticas agrícolas, como preparar o solo para o semeio mais cedo, semear a tempo, semear plantas que resistam à secura e a deixar os resíduos das culturas no solo para limitar a erosão, e ajudar a melhorá-lo.
Desde 2015, com a ajuda da Diocèse da região centra de Tanganyika, ou DCT, estamos a ensinar aos agricultores a minimizar a lavoura. Está provado que os métodos perturbam de forma mínima o solo, que o mantêm coberto e exigem uma rotação das culturas melhoram a fertilidade do solo. Permitem também eliminar o esforço e gastos associados à lavoura. E mais, os agricultores que adoptam a AC são susceptíveis de obter rendimentos mais elevados dos que praticam uma agricultura convencional.
ANIMADOR:
Já faz quase três anos que começou a formar os agricultores. No entanto, a maioria deles praticam a AC em menos de dois acres, e continuam a cultivar tradicional- mente a maior parte das suas terras. Qual o obstáculo principal à utilização maior da agricultura de conservação?
SAMWEL ELINURU:
A mudança das práticas agrícolas é um processo muito
longo. Diria que pelo menos 80 % dos nosso agricultores aumentaram as suas parcelas dedicadas à AC, passando de um quarto a mais de um acre. Recomenda- mos aos agricultores que comecem numa superfície pequena, ou sejo mais ou menos 20 metros por 20 metros, para que dominem primeiro a técnica. A boa notícia é que temos agricultores que já adoptaram por completo a agricultura de conservação, enquanto que outros estão em vias de o fazer.
ANIMADOR:
É assim tão difícil passar de uma agricultura convencional à agricultura de conservação? Que processos impli- ca?
SAMWEL ELINURU:
A mudança não é de todo difícil. Os agricultores que praticam o tipo de AC no qual se cavam buracos de plantação com enxadas dizem que quando a quinta é muito grande, este processo pode ser muito demorado. Mas com um sistema de AC assente na utilização de bois, o tempo requerido para a preparação do solo seguindo a AC não é mais longo.
Sr. JOSEPH:
No início, é muito difícil. Mas às medida que se esforça, a adopção é muito fácil e mais barata que a lavoura. O que pede mais tempo são os buracos de plantação, que também usamos para o adubo e estrume. Mas se começar cedo, não tenho dúvidas que consiga.
ANIMADOR:
Que equipamento ou material utiliza?
Sr. JOSEPH:
Geralmente, quando começa a praticar a agricultura de conservação, vai precisar de utensílios de lavoura, eu utilizo uma enxada. Semeio também uma cultura abrigo para controlar as ervas daninhas. É preciso uma fita métrica para medir a distância entre um buraco de plantação e o próximo, e as distância entre filas, e um fio para garantir que as filas de plantação estão direitas.
Temos esse material todo na aldeia.
SAMWEL ELINURU:
Se me permite acrescentar… Pode também utilizar umarado Magoye ou de sub-solo. Todas as aldeias de Dodoma receberam um apoio do governo ou da DTC e tem hoje um arado. Formámos também dois operadores em cada aldeia para garantir que os agricultores respeitem as bases da agricultura de conservação.
O preço de cada arado motocultivadora eléctrica varia entre 500 000 e 600 000 shillings tanzanianos [220 – 265 $ US]. Um arado Magoye custa à volta de 70 000 shillings tanzanianos [30 $ US]. Alguns agricultores também utilizam material motorizado, como semeadoiras a motos, mas esse tipo de tecnologia ainda não é muito popular cá.
ANIMADOR:
(AO PÚBLICO) O arado Magoye é um aparelho de tração animal utilizado na agricultura de conservação para o trabalho de conservação do solo. O arado é composto por uma manga presa numa base, e outra na qual está fixado um dente posto a um ângulo que fure e abra a terra quando puxado. No entanto esta não revira a terra, como um arado normal.
(AO AGRICULTOR E AGENTE DE DIVULGAÇÃO)
Qual a diferença entre este e outro utensílios utilizados na agricultura convencional?
SAMWEL ELINURU:
Também utilizamos motocultivadores e arados na agricultura tradicional. A diferença é que não usamos arrancadoras com garras.
ANIMADOR:
Seiscentos mil shillings por um arado motocultivador eléctrico, é muito para um agricultor ou agricultora de exploração familiar normal. Que outras opções têm?
SAMWELI ELINURU:
Como já disse, cada aldeia dispõe de um arado Magoye.
Nesta aldeia, os agricultores formaram uma associação e o governo ofereceu um motocultivador eléctrico e uma arrancadora com garras. Os membros dessa associação decidiram que o agricultor que precisar pode alugá-las por 17 000 shillings [7,50 $ US] por acre. As outras aldeias de Dodoma adoptaram o mesmo preço. Mas o DTC subsidiou os agricultores durante o primeiro ano para os incentivar a utilizar esta tecnologia nova. A organização pagou 12 000 shillings e os agricultores pagaram os 5 000 shillings restantes.
SAMWEL ELINURU
: A aldeia de Chihanga reagiu de forma mais positiva que as restantes aldeias. Os agricultores das outras aldeias não estavam convencidos. Para eles, a AC era uma agri- cultura maioritariamente para mulheres.
ANIMADOR:
O que é que os fez achar isso? Sr. Joseph, também acho isso?
Sr. JOSEPH:
Não. Interessei-me nesta prática depois de a ter testado e realizado que as minhas colheitas estavam maiores do que com a agricultura tradicional. Portanto, nem questionei se este método era mais para mulheres ou homens. O meu rendimento aumentou, e por isso estou satisfeito.
SAMWEL ELINURU:
Encontrámos vários agricultores que admitiram não tertestado a agricultura de conservação, por esta toca a culturas como o sorgo que não tem valor de mercado. Este viam a AC como uma forma de aumentar os seus benefícios. Precisavam de culturas comerciais fáceis de vender, como o milho, o arroz ou o girassol, para conseguir mais dinheiro. Portanto, muitos não investiram na AC. E os que a testaram mas que começaram tarde, também não a conseguiram, por causa da falta de chuva. Este falhanço dissuadiu muitos agricultores de testar a AC ou pagar a associação para poder utilizar os utensílios.
A DCT já não está a subsidiar e agora os agricultores têm que pagar a totalidade dos 17 000 shillings. Mas conseguimos introduzir o girassol como uma das cultur- as que podem ser cultivadas com AC, por isso vemos muito mais homens envolver-se na AC.
ANIMADOR:
Quais são os outros custos associados à AC?
Sr. JOSEPH:
Não há outros custos. Nas associações, os agricultores concordaram ajudar-se uns aos outros à vez nos seus campos. Em troca de ajudar, os agricultores que trabalharam na terra de outro recebiam comida e um pouco de dinheiro. Quando trabalham com um arado normal, pagamos-lhes em media 30 000 shillings (13 $ US), e não precisam de muito mais de uma hora para trabalhar um campo; com um arado Magoye, demora menos de 30 minutes para trabalhar um acre.
SAMWEL ELINURU:
A arrancadora com garras ainda ajuda mais os agricultores. Ao contrário do arado que faz fossas horizontais no solo, o que acaba por formar uma camada mais sólida debaixo do solo, a arrancadora faz aberturas verticais. Isto permite à planta desenvolver raízes mais profundas, que permitem melhor crescimento. Essas fossas são também indispensáveis para reter a água da chuva.
ANIMADOR:
Todos os agricultores que deixem a lavoura precisam dessa arrancadora com garras para cultivar de forma mais eficaz grandes superfícies?
SAMWEL ELINURU:
Para conseguir o trabalho mais rapidamente, sim. A outra solução é reunir mais gente para trabalhar o campo com enxadas e outros materiais manuais. O utensílio motorizado facilita o trabalho, mas não impede que alarguem o campo sem ele. Quase todos os utensílios tradicionais estão disponíveis na aldeia, e os motorizados podem ser alugados.
ANIMADOR:
Caros ouvintes, ficamos por aqui por hoje. Mas queremos relembrar que agricultores e agricultoras como vocês praticam a AC com material como a arrancadora com garras para aumentar a sua produção. Os homens, tal como as mulheres podem facilmente praticar a agricultura de conservação. E mais, os agricultores afirmam que esta contribui ao aumento dos seus rendimentos e diminuição dos seus custos.
Esperando a próxima vez que nos encontramos, obrigada por nos ouvirem na [nome da estação de rádio]. Estarem cá à mesma hora para a semana para mais uma emissão instrutiva. Adeus.
Acknowledgements
Agradecimentos
Redação : Sylivester Domasa, redator. Dar es Salaam
Revisão : Saidi Mkomwa, ingenheiro, Secretário exectivo, African Conservation Tillage Network, Nairobi, Kenya.
Este documento foi produzido com o apoio da Canadian Foodgrains Bank para o projeto « Conservation Agriculture for building resilience, a climate smart agriculture approach. » (A agricultura de conservação para o reenforço da resiliência: uma abordagem agrícola inteligente face ao clima). Projeto realizado com o apoio financeiro do governo do Canada por meio dos Negócios Mundiais Canada. www.international.gc.ca
Translated with funding from USAID.
USAID Washington Development objective: to support the New Alliance ICT Extension Challenge Fund through the implementation of affordable, scalable, and diverse ICT extension services.
AID-OAA-A-16-00003
Information sources
Fontes:
Entrevistas:
Isaya Joseph, agricultor, dezembro 2017
Samwel Elinuru, agente de divulgação agrícola local, Chihanga, dezembro 2017